Mercado Sênior


"Quem não for belo aos vinte anos, forte aos trinta, esperto aos quarenta e rico aos cinqüenta, não pode esperar ser tudo isso depois."
Martinho Lutero

- Com todo respeito ao Lutero, eu discordo completamente!

O contexto em que essa idéia foi escrita no séc XVI, é completamente diferente 5 séculos depois.
A começar pela expectativa de vida.

Naquele tempo, viver 40 anos devia ser algo quase impensável ( e doloroso).

Uma pessoa dessa idade podia ser considerada senil. As pestes, guerras, o estilo de vida predominantemente rural, a exposição à hostilidade do clima, enfim, tudo isso devia castigar tanto o corpo e o espírito, que aos 40 a morte era uma benção.

Medicina e dentista, nem pensar.

Por que falar sobre isso?

Nossa geração já superou a barreira dos 3 dígitos. Cada vez mais encontramos pessoas que chegam aos 100 anos, com saúde física, mental, emocional e espiritual. Isso ainda não é comum, mas acontece. Estão aí a D. Canô, o Niemeyer, e a mãe do Chico Buarque.

Infelizmente, algumas pessoas envelhecem como seus pais e avós.
E não é por uma questão genética, mas ambiental e simbólica.
E digo isso no mal sentido. Com todos os problemas que eles tiveram, inclusive a postura corporal e a comportamental.

Como assim?

Somos seres altamente simbólicos. Nossa mente se movimenta a partir de crenças. Tudo o que pensamos e sentimos é filtrado por nossas crenças.

Vemos o mundo que acreditamos, não o real.

As realidades são "construídas" baseadas nessas crenças. E isso não é papo esotérico, não. É fruto de descobertas das neurociências. Nosso cérebro ainda é uma caixa negra.

Ok, mas vamos deixar por menos. Digamos que chegaremos aos 90 anos.
E daí?
Quem aos 50 está se sentindo acabado, como pretente viver nos próximos 40 anos?

Estrategicamente, que planos profissionais traçar para esse futuro?

Aposentadoria é um conceito tão antigo quanto usar chapéu, polaina e bengala.
.....Ou broche, laquê e anágua.

Faz parte de um passado morto e enterrado. Um paradigma que já foi superado mas ainda tem gente que o sustenta como sendo uma tábua de salvação.

O que fazer com a sabedoria adquirida em toda essa trajetória dos últimos 50 anos?

Que objetivos profissionais é possível traçar?

Onde e como queremos estar daqui há 5 anos? Em 2015.

O futuro é uma das muitas abstrações das nossas crenças.
Futuro não é algo que nos acontece. É algo que construímos no eterno agora.

Parece paradoxal? Mas é mesmo. O nome do jogo da vida é paradoxo.

A beleza, a força, esperteza e a riqueza das quais Lutero falou, pertencem todas ao agora.
Qualquer que seja sua idade.

O mercado de trabalho (atenção, eu disse de trabalho, não de emprego... há uma diferença enorme entre um e outro, e não apenas conceitual, mas de atitude!) está pronto para absorver a sabedoria e a energia dos sêniors. E pagar por isso.

Envelhecer não é uma questão cronológica, mas de comportamento. Envelhece quem para de aprender e perde a disposição de inovar e criar.
Quem se atualiza constantemente e pratica o Kaizen* não tem tempo para envelhecer.

Não podemos escolher nossa aparência quando nascemos. Nossa herança genética fala por nós.
Mas o modo como envelhecemos, nosso rosto, corpo, mente e idéias que queremos ter certamente depende apenas da gente. Nesse caso a influência ambiental fala tão alto quanto a genética.

Aqui mesmo no Brasil, temos um dos melhores exemplos, Roberto Marinho que começou a construir o império das organizações Globo aos 60 anos. ( por favor, baixe a guarda da sua ideologia. Gostemos ou não, a Globo é uma potência transnacional, com todas as qualidades e defeitos que isso significa).
Quando ele morreu, aos 98 anos, teve quase 40 anos para trabalhar e desfrutar o sucesso de seu empreendimento.

Há um mundo lá fora esperando. Aguardando nossa interferência para ser melhorado. Com grandeza, participação, saúde, beleza, força, energia e bom humor.
Afinal, onde está a inteligência de um mercado que não aproveita a sabedoria de quem tem história para contar e aplicar?

Oscar Motomura, o CEO da Amana-Key disse uma vez que nossa geração tem a possibilidade de ter no mínimo, 3 carreiras no decorrer da vida, com pelo menos 25 anos de atuação em cada uma.

Geralmente, sempre que esse tema vem à tona, alguém fala que isso acontece aqui no Brasil e que nos EUA e na Europa as coisas acontecem bem diferentes.
Isso é um fato.
Então como explicar esse defeito na índole nacional? Essa ignorância tupiniquim.
Burrice? Má vontade? Fruto da herança colonial, ainda?

Afinal é bem melhor explorar um trabalhador jovem e inexperiente, mesmo com alto custo da eficiência, do que pagar um salário justo a um trabalhador experiente.
Pode ser. O mapa cognitivo do gestor nacional é tão estreito e enviesado que pode ser isso mesmo.

Ou por puro preconceito. Mas o preconceito não é primo da ignorância e irmão da arrogância?

Bem, se for assim então, só nos resta a alternativa empreendedora.
Que pena que por aqui o empreendedorismo é a última saída e não a primeira alternativa.

De minha parte quero morrer em pé. Na ativa. Incomodando muita gente.

"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos." Eleanor Roosevelt


*Kaizen = melhoria continua

5 comentários:

Viviane Sevarolli disse...

Muito bacana seu texto e apresentação sobre o contraste de ideias. Naquela "lecture" de Elizabeth Gilbert aqui em Seattle, ela menciona normalmente o fato de ser uma jovem escritora de 40 anos que tem pelo menos mais 40 anos para escrever e publicar suas ideias. Nao é simplesmente fantástico planejar e atuar dessa forma?!? Adoro aprender e tenho certeza que quanto mais velhos mais experientes e sabios nos tornamos ... Bom, com relacao ao livros de Gladwell, voce ira se deleitar com "Tipping Point" e "Blink", muito bons. Me passe suas dicas de livros tambem .. estou sempre grudada nas letrinhas !!! :-)

Unknown disse...

Eu tenho certeza absoluta de que meu futuro ainda está sendo preparado.A cada dia que vivo e já vivi, acrescento algo novo.Justamente com este propósito.
Nem me passa pela cabeça que envelhecerei.
Pelo menos, mentalmente e emocionalmente.
Farei um post sobre o asssunto.
bjs

AC disse...

Gostei do Jogo da Vida, que você chama de "Paradoxo". É isso mesmo!
Estamos tão habituados a seguir as receitas prontas que deixamos de olhar para o "Outro Lado"... levamos a vida repetindo "os velhos paradigmas", sem ousarmos nos recriar!
Lutero foi uma pessoa fantástica em seu tempo. Por isso é mais do que adequado contestarmos suas frases à luz de uma nova contextualização.
Acredito que mesmo que se mantenha uma carreira focada em uma determinada atividade ela deve ser renovada, recriada e arejada constantemente. Caso contrário corremos o risco de parecermos velhos, pelo discurso ultrapassado.
Ótimo texto!

Beatriz disse...

Comecei a trabahar aos 19 anos, não por idealismo nem por necessidade. Apenas porque há quem goste de produzir, este desejo se apresente cedo, aliado a uma oportunidade. Isso é coisa de temperamento: custa a declinar, se é que um dia fenece.
Não segui o modelo de quem ingressa aos 18 numa empresa, em função subalterna, galga posições, chega à direção e anseia pelo dia de receber uma placa de prata ao deixar as funções no escritório para ganhar definitivamente os chinelos ao entrar em casa.
Tive sorte de começar diferente, fui mais arrojada, mais curiosa, mais confiante. Sai duas vezes do mercado formal mas continuei e continuo trabalhando, produzindo, me testando, me expondo. Não me sinto gasta para uma novas experiências. Sinto-me, sim, mais preparada, sem arrogância e sem a sensação de estar anacrônica.
Arrisquei mais e aprendi muito. Quero trabalhar sempre, aprender, criar e recriar, emprestar minha experiência, habilidade e conhecimento a atividades que sejam novas para mim.
Tenho a vantagem de não ser especialista. Sou absolutamente generalista e tudo o que aprendo e exercito vem a ser aplicavel a vários campos e isto é em si uma motivação para empreender novos caminhos.
Oscar Niemayer, Sobral Pinto (que não dispensava um prato de batatas fritas ao almoço), Rachel de Queirós, Drummond... são tantos os exemplos de profissionais que chegaram longe produzindo continuamente e cada vez melhor! Morreriam se parassem, se a aposentadoria lhes fosse imposta.

Quem não se recria continuamente já morreu em vida.

Vera disse...

Também discordo dele, Maristela. Tive uma avò que trabalhou até os 87 anos e tenho uma mãe que trabalha aos 70......assim sendo tenho certeza que chego aos 100 cheia de energia, criatividade, saúde e garra pra pegar no pesado...rsrsrsrs
bjo

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