Escassez de profissionais na America Latina

"Empresas esbarram em falta de gerentes na América Latina"

Paulo Trevisani | The Wall Street Journal

16/03/2011

Uma escassez de profissionais de alto escalão tem se tornado um obstáculo para as empresas que tentam entrar ou se expandir nos países que mais crescem na América Latina, dizem headhunters e executivos de vários setores.

A alta do câmbio e o boom econômico estão atraindo executivos para trabalhar na região, mas em número ainda insuficiente para o crescente apetite por diretores.

Algumas empresas já tiveram de adiar projetos e aumentar investimento em treinamento interno para executivos, sem falar no gasto com salários mais altos e incentivos para evitar que mudem de emprego, segundo profissionais de recursos humanos.

Analistas sênior e administradores de carteira, por exemplo, têm sido difíceis de achar no Brasil, diz Paulo Silvestri, sócio da Rio Bravo Investimentos, a empresa paulista de investimento em participações que tem negócios em infraestrutura, logística e outros setores. Ele esteve em Nova York em fevereiro para, entre outras coisas, reunir-se com brasileiros recém-formados em cursos de MBA americanos que estavam considerando voltar para o Brasil.

Geralmente, profissionais como esses partiriam para uma carreira internacional logo depois de um MBA no estrangeiro, mas essa tendência se inverteu, diz Silvestri. Segundo ele, pessoas como as que ele entrevistou - cuja possível contratação ainda não estava confirmada - são cada vez mais procuradas e estão em falta, apesar de a remuneração na moeda local parecer mais atraente quando convertida a dólares ou euros.

O real subiu cerca de 25% em relação ao dólar nos últimos quatro anos, enquanto o peso chileno subiu 11%, o sol peruano 18% e o peso colombiano, 19%, só para citar alguns exemplos de uma tendência que se espalha pela América Latina.

Luciano Siani, diretor global de recursos humanos da Vale S.A., uma das maiores mineradoras do mundo, diz que com a alta do real ficou mais fácil oferecer um salário anual de US$ 100.000 a US$ 120.000 (algo como R$ 15.000 mensais) que, segundo ele, é atraente para profissionais que acabam de sair de um MBA de qualidade internacional. A Vale, que recruta em campus de faculdades de alto nível nos Estados Unidos e outros países, tem conseguido atrair talentos para trabalhar no Brasil e outros países latino-americanos em que opera também graças ao bom momento econômico da região, diz ele.

Contudo, Siani diz que "há uma escassez de prontidão para diretores de projeto seniores" para manter o passo com a expansão da companhia, e isso tem levado a Vale a promover executivos mais jovens para esse tipo de posição. "Para liderar um projeto de US$ 3 bilhões, você precisaria de um executivo de seus 40 a 45 anos que já tivesse trabalhado em dois ou três projetos grandes", diz, mas agora a Vale tem cada vez mais promovido pessoas na casa dos 35 e está intensificando o treinamento interno para que possam encarar mais cedo um cargo mais alto.

Como parte desse esforço, diz Siani, a Vale está contratando este ano 40 treinandos de gestão, com até 3 anos de pós-graduação MBA ou equivalente. Eles passarão por um programa de treinamento de 18 meses em seu primeiro passo a caminho de liderar um projeto bilionário na Vale, diz Siani, acrescentando que o grupo deste ano é o dobro do de 2011 e inclui 29 brasileiros e 11 estrangeiros que serão alocados nas operações da Vale ao redor do mundo.

Um desses trainees, Emil Ivanov, mudou-se da Holanda para o Rio em 2008, recrutado pela Vale. Ele diz que foi atraído pela possibilidade de trabalhar "num ambiente muito agressivo e de alta velocidade" que julgava difícil encontrar na Europa. Um profissional de recursos humanos de 26 anos nascido e educado na Bulgária, Ivanov agora está se mudando para a Suíça, onde, como analista sênior de RH da Vale, vai ajudar a companhia a promover sua marca entre possíveis contratados. Ivanov diz ter encontrado no Rio um ambiente de trabalho em que "as pessoas estão abertas a novas ideias". Como trainee, "podia falar diretamente com o diretor-presidente Roger Agnelli, o que não imagino acontecendo, digamos, na Alemanha ou no Reino Unido".

Em geral, a Vale, que divulgou lucro de US$ 17,26 bilhões em 2010, está investindo cerca de US$ 100 milhões em seus programas de treinamento global em 2011, cerca de "30% a 50%" mais do que no ano passado, diz Siani.

Pode valer a pena, já que no setor de mineração os diretores de projeto estão em alta demanda e é difícil de preencher os cargos, especialmente para empresas menos proeminentes, diz John Byrne, diretor de pesquisa de executivos da firma de recrutamento americana Boyden Global Executive Search no Chile.

Em geral, diz Byrne, diretor de projeto é um cargo de US$ 350.000 a US$ 400.000 por ano na América Latina, comparado com US$ 300.000 a US$ 350.000 um ano atrás. Dessa estimativa, 30% representa bônus, e opções de ações não estão incluídas, diz ele. Essa variação, diz Byrne, mais que compensa a alta do custo de vida na região.

Byrne acrescenta que os bancos também estão tendo dificuldade para preencher posições de destaque. A Boyden Chile está procurando um vice-presidente de planejamento e controle para um banco local há mais de seis meses, diz ele. "Encontramos alguns possíveis candidatos", diz, mas outros bancos também fizeram ofertas e eles não acertaram com o cliente de Byrne.

Gerentes de investimento para clientes ricos de bancos agora podem esperar uma oferta de salário 40% mais alta para ir trabalhar num concorrente do mesmo porte em mercados como México, Chile, Brasil e Colômbia, diz Manuel Corsino, um recrutador da Boyden para a América Latina baseado na Flórida e especializado no setor financeiro. Isso se compara a 10% a 20% nos EUA, diz ele. O custo de preservar esses profissionais também está subindo, com bônus de retenção - dado a recém-contratados sob o compromisso de ficarem um certo número de anos no emprego - em alta de 300%, diz Corsino.

Mas nem todo mundo está reclamando. O diretor de recursos humanos do Citigroup Inc. para a América Latina, José Martí, disse num e-mail que "o Citi não tem experimentado nenhuma dificuldade recentemente em preencher posições de alto nível na América Latina". Contudo, Martí admitiu que "o Brasil tem apresentado desafios diferentes", com "uma oferta limitada de talentos de alto nível" que está elevando os níveis de remuneração, disse.

Na verdade, as economias mais aquecidas da região estão absorvendo quase toda a mão de obra disponível, não apenas a qualificada, com o Brasil registrando um desemprego de 6,1% em janeiro que, embora mais alto que o de dezembro, foi o menor para o mês desde 2003, segundo o IBGE. A renda média no país foi de R$ 1.538,30, 5,3% mais alta do que um ano antes. Uma escassez de mão de obra qualificada tem sido observada em várias indústrias no país todo.

No topo da pirâmide corporativa, o salário médio de um diretor-presidente ou equivalente no Brasil subiu 19% entre janeiro de 2009 e janeiro de 2011, para R$ 50.266 por mês, segundo dados da pesquisa trimestral da Catho Online, que ela informa ter ouvido 140.000 pesquisados.

Silvestri, da Rio Bravo, diz que o impacto da escassez de diretores vai além dos custos trabalhistas. "Eu já tive de atrasar alguns projetos" em empresas que a Rio Bravo controla devido à falta de gerentes, diz, sem dar detalhes. Agora sua firma está investindo em treinamento interno, recrutando profissionais jovens e tentando ensinar-lhes novas habilidades.

Fonte: Jornal Valor Econômico - 16/03/2011

Assim falou Paul Krugman

Qualificação profissional e educação não garantem o futuro


Paul Krugman

Todo mundo sabe que a educação é um fator fundamental para o sucesso econômico. E todos sabem que os empregos do futuro exigirão níveis de qualificação cada vez mais elevados. Foi por isso que, ao dar uma declaração quando estava acompanhado do ex-governador da Flórida Jeb Bush, na última sexta-feira, o presidente Barack Obama afirmou: “Se nós desejarmos mais boas notícias sobre empregos, precisaremos investir mais em educação”. Mas há um erro em relação a esta verdade conhecida por todos.

No dia seguinte ao evento do qual Barack Obama e Jeb Bush participaram, o “The Times” publicou um artigo sobre o uso crescente de softwares para a realização de pesquisas na área de direito. Os computadores são capazes de analisar rapidamente milhões de documentos, realizando de maneira barata uma tarefa que antigamente exigia um batalhão de advogados e especialistas em direito. Neste caso, então, o progresso tecnológico está na verdade reduzindo a demanda por trabalhadores com alto nível educacional. E as pesquisas na área de direito não se constituem em um exemplo isolado.

Conforme o artigo observa, os programas de computador estão também substituindo engenheiros em certas atividades, como o design de chips. Falando de forma mais abrangente, a ideia de que a tecnologia moderna elimina apenas os empregos para trabalhadores não qualificados, e de que os profissionais de alta qualificação são os nítidos vencedores, pode prevalecer nas discussões populares, mas a verdade é que tal ideia está na verdade superada há décadas.

O fato é que desde mais ou menos 1990 o mercado de trabalho dos Estados Unidos caracteriza-se não por um aumento generalizado da demanda por qualificações, mas sim por esvaziamento de uma “zona intermediária”: o número de empregos de alta e de baixa remuneração têm crescido rapidamente, mas o daqueles de remuneração média – ou seja, aquele tipo de trabalho que sustenta uma classe média robusta – tem ficado para trás. E esse buraco no campo intermediário do mercado de trabalho tem aumentado continuamente: muitas das ocupações de alta remuneração que cresceram rapidamente na década de noventa têm crescido muito mais lentamente nos últimos tempos, ainda que o índice de empregos de baixa remuneração tenha se acelerado. Por que isso está acontecendo?

A crença de que a educação está se tornando cada vez mais importante se baseia na ideia aparentemente plausível de que os avanços tecnológicos resultam em um aumento das oportunidades de emprego para aqueles indivíduos que trabalham com informação – ou, em outras palavras, na ideia de que os computadores ajudam aqueles que trabalham com o cérebro, prejudicando ao mesmo tempo as pessoas que fazem trabalhos manuais.

Alguns anos atrás, porém, os economistas David Autor, Frank Levy e Richard Murnane argumentaram que esta era a forma errada de pensar a respeito dessa questão. Eles observaram que os computadores são excelentes para as tarefa que envolvem rotina, “tarefas cognitivas e manuais que são realizadas mediante o seguimento de regras explícitas”. Portanto, qualquer tarefa rotineira – uma categoria que inclui muitos empregos qualificados, não manuais – encontra-se na linha de fogo.

Por outro lado, os trabalhos cuja execução não se dá mediante o seguimento de regras explícitas – uma categoria que inclui vários tipos de trabalho manual, de
motoristas de caminhão a zeladores de edifícios – tenderão a crescer mesmo com o progresso tecnológico. A questão fundamental é que a maioria do trabalho manual que ainda está sendo realizado na nossa economia parece ser de um tipo que é difícil de automatizar.

Notavelmente, com os operários respondendo por cerca de 6% do emprego nos Estados Unidos, não restaram muitos empregos nas fábricas para serem perdidos. Enquanto isso, muitos trabalhos qualificados que são atualmente realizados por profissionais de alto nível educacional e que geram um pagamento relativamente elevado poderão ser em breve computadorizados.

O aspirador de pó robotizado Roomba pode ser engraçadinho, mas falta muito ainda para que tenhamos robôs atuando como zeladores de prédios. Mas
a pesquisa computadorizada na área de direito e os diagnósticos médicos auxiliados por computadores já fazem parte da realidade atual.

Além disso, há a globalização. Antigamente, só os trabalhadores de fábricas precisavam se preocupar com a concorrência do exterior, mas a combinação de computadores e telecomunicações tornou possível o fornecimento de diversos serviços à distância. E as pesquisas dos meus colegas da Universidade de Princeton, Alan Blinder e Alan Krueger, sugerem que os trabalhos de alta remuneração feitos por profissionais de elevado nível educacional são mais fáceis de serem transferidos para o exterior do que aqueles desempenhados por trabalhadores de remuneração e nível educacional mais baixos.

Caso eles estejam certos, a tendência
crescente de internacionalização dos serviços esvaziará ainda mais o mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Então, o que tudo isso nos diz a respeito de políticas públicas? Sim, nós precisamos consertar o sistema educacional dos Estados Unidos.
( só de lá????)

Em especial, as desigualdades que os norte-americanos enfrentam logo no início – crianças brilhantes oriundas de famílias pobres têm uma probabilidade menor de concluírem um curso superior do que os crianças bem menos capazes, mas que são filhas de indivíduos ricos – não se constituem apenas em um escândalo; elas representam também um enorme desperdício do potencial humano do país.

Mas existem certas coisas que a educação não é capaz de fazer. Em especial,
a ideia de que fazendo com que mais jovens cursem a universidade nós seremos capazes de restaurar aquela sociedade de classe média com a qual estávamos acostumados é inteiramente falsa. Ter um diploma superior não representa mais garantia de um bom emprego, e isso está se tornando cada vez mais verdadeiro a cada década que passa. Portanto, se quisermos uma sociedade na qual a prosperidade seja amplamente compartilhada, a educação não é a resposta – nós teremos que procurar construir tal sociedade diretamente.

Precisamos restaurar o poder de negociação que o trabalho perdeu nos últimos 30 anos, de forma que tanto os trabalhadores comuns quanto os super astros contem com a capacidade de negociar por melhores salários. Nós temos que garantir as coisas essenciais, em especial o acesso aos serviços de saúde, a todos os cidadãos. O que não conseguiremos fazer é atingir esse objetivo apenas dando diplomas universitários aos trabalhadores. Esses diplomas
poderão representar cada vez mais a entrada em empregos que não existem ou que não pagam salários de classe média.

Paul Krugman
Professor de Princeton e colunista do New York Times desde 1999, prêmio Nobel de Economia de 2008


A tal da felicidade....


Faço meu o manifesto do Pondé na FSP de hoje!!


LUIZ FELIPE PONDÉ


Deus me livre de ser feliz


Quanto aos meus alunos e aos meus leitores, esses eu nunca penso em deixar felizes, graças a Deus

DEUS ME livre de ser feliz.
Existem coisas mais sérias que a felicidade.
Algum sabichão por aí vai dizer, sentindo-se inteligentinho: "Existem várias formas de felicidade!".
E o colunista dirá: "Sou filósofo, cara. Conheço esse blá-blá-blá de que existem vários tipos de felicidade, mas hoje não estou a fim".
Um bom teste para saber se o que você está aprendendo vale a pena é ver se o conteúdo em questão visa te deixar feliz.

Se for o caso e você tiver uns 40 anos de idade, você corre o risco de sair do "curso" engatinhando como um bebê fora do prazo de validade. A mania da felicidade nos deixa retardados.
Querer ser feliz é uma praga. Quando queremos ser felizes sempre ficamos com cara de bobo. Preste atenção da próxima vez que vir alguém querendo ser feliz.
Mas hoje em dia todo mundo quer deixar todo mundo feliz porque agradar é, agora, um conceito "científico". Quem não agrada, não vende, assim como maçãs caem da árvore devido à lei de Newton.
Mas eu, talvez por causa de algum trauma (fiz análise por 20 anos e acho que Freud acertou em tudo o que disse), não quero agradar ninguém.
Não considero isso uma "vantagem moral", mas uma espécie de vício. Claro, por isso tenho poucos amigos. Mas, como dizem por aí, se você tiver muitos amigos, ou você é superficial, ou eles são, ou os dois.
Quanto aos meus alunos e leitores, esses eu nunca penso em deixar felizes, graças a Deus.
Desejo para eles uma vida atribulada, conflitos infernais com as famílias, dúvidas terríveis quanto a se vale a pena ou não ter filhos e casar.
Desejo que, caso optem por não ter família, experimentem a mais dura solidão da existência humana, porque, no fundo, não passam de egoístas. Mas se tiverem família, desejo que percebam como os filhos cada vez mais são egoístas porque querem ser felizes e livres.
Desejo para eles pressões violentas no mercado de trabalho. E jantares à meia-noite diante de um trabalho que não pode ficar para amanhã porque querem viajar e ter grana para gastar.
Quem quiser ser livre, que aguente a insegurança da liberdade. Quem for covarde e optar por uma vida miseravelmente cotidiana que veja um dia sua filha jogar na sua cara que você foi um covarde.
Especialmente, desejo um futuro cruel para quem acredita que "ser uma pessoa de bem" a protege de ser infiel, infeliz, abandonada e invejosa.

Espero que um dia descubram que, sim, eles têm um preço (apenas desejo que seja um preço alto) e que se vendam.

Espero que percebam que seus pais não foram santos e parem com essa coisa de gente brega de classe média que tenta inventar uma "tradição ética familiar" que só engana bobo.

E por que digo isso? Porque hoje todos nós estamos um tanto infantilizados e só queremos que nos digam o que achamos legal.
O resultado é uma massa de obviedades. A tendência é transformar o pensamento público em autoajuda ou em "compromisso com um mundo melhor", o que é a mesma coisa.
Quem quer agradar é, no fundo, um frouxo. Vejamos alguns exemplos do produto "querer ser feliz". Comecemos por quem acha que o seu "querer ser feliz" é superior e espiritualizado.
Talvez você queira virar luz quando morrer porque ser luz é legal (risadas). Deus me livre de querer virar luz quando morrer. Prefiro as trevas.
Se for para continuar vivendo depois de morto, prefiro viver no "meu elemento", as trevas, porque sou cego como um morcego.
Normalmente, quem quer virar luz quando morrer é gente feia ou magra demais. Mulheres bonitas vão para o inferno, logo...
E gente que acha que frango tem mãe (só porque ele "descende" do ovo de uma galinha, e ela de outro...) e por isso é crime matá-los? Trata-se de uma nova forma de compromisso com a "felicidade social e política".
Entre esses "felizes que desejam a felicidade para os frangos" existem pessoas de 40 anos com cérebro de dez e pessoas de dez anos que um dia terão 40, mas com o mesmo cérebro de dez. Não creio que mudem.
Hoje é Carnaval. Espero que você não tenha pegado aquele trânsito idiota de cinco horas para ser feliz na praia.


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