Cidadania, um conceito abstrato?

Algo me diz que Empresas, Escolas e Lares fazem mal à saúde.

Depois de acompanhar as notícias de crianças violentadas dentro da própria casa, alunos invadindo escolas e matando dúzias de pessoas e empresas despedindo sem nenhuma cerimônia em nome de uma suposta crise financeira a gente dá uma olhadinha na janela pra confirmar se o "estandarte do sanatório geral" não está passando.

Já que meu propósito aqui é tratar de trabalho, orientação profissional, empreendedorismo e coisas afins, vamos comentar apenas os dados das escolas e empresas. Deixemos de lado o caso da menina grávida que teve a família ex-comungada, afinal, isso é mesmo sem comentários....!
É sempre bom lembrar que nenhum desses fatos estão isolados. Eles fazem parte de um mesmo contexto existencial doentio. Quem observá-los individualmente vai esbarrar na impossibilidade da conclusão. Vai faltar peças no quebra-cabeça.

Dia desses li não me lembro onde, que a cidadania ainda não havia chegado às empresas.
Vou repetir:

"A cidadania ainda não chegou às empresas"

Isso merece uma reflexão. Se achegue, puxe a cadeira e pegue um café...

Eu diria até que a cidadania não chegou ainda nem ao nosso imaginário coletivo como nação.
Votar é a manifestação mais pobre da cidadania. Cidadania corporativa então é algo tão distante quanto a constelação de Órion.

Há um mal estar no ar das empresas e das escolas. E não é só a poluição atmosférica.
Dizem que vivemos na era do conhecimento. Não parece. Nossa era ainda é obscura. Estamos mais perto dos Neandertais do que gostaríamos de admitir. Medieval no nosso caso é um tremendo elogio.
O tempo é relativo. Passa diferente para cada um de nós. Para quem espera parece bem maior do que para quem decide.
Pois o tempo que passa dentro das empresas, principalmente por terras tupiniquins, ainda não chegou nem ao século XX. No Brasil ele ainda está ali por 1750, mais ou menos nos primórdios da revolução industrial da Europa. Os antigos capitães do mato e os feitores são hoje os gestores. Olha só que interessante, até rima.

Caminhe pelo chão de fábrica e observe a esquizofrenia do ambiente de trabalho. Olhe nos olhos, perceba a distância entre o discurso da qualidade e a prática servil a que os operários são submetidos. Observe a tirania das ISOs e veja se ela não se parece que as ordenações militares. Indústrias e Exércitos têm muito mais pontos em comum do que gostaríamos.
Conceitualmente todo o perfil operacional da indústria foi copiado para o comércio e em menor escala para o serviço.

Uma vez fiquei sabendo que atendentes de uma loja de calçados do interior de São Paulo eram proibidas de usar o banheiro da loja. O protocolo do trabalho delas incluia ficar de pé o dia todo sem poder fazer xixi. Pois é......a cidadania certamente não passou na porta daquela loja. E o pior é que essa não é uma exceção, um caso isolado dos rincões. Acontece nos melhores shoppings. O nome disso, salvo engano, é assédio moral.

Essas observações mostram, que trabalho sem respeito faz mal à saúde, física e mental.

Nas escolas, o bullying é só a pontinha do iceberg. A situação dos professores e dos alunos nessa fábrica de doidos é de tal forma disfuncional, que seria bom saber o que significa ser considerado um bom aluno de um sistema educacional falido? O que signfica formar com distinção nesse modelo. Significa que nos deixamos deformar?

Os filmes "Pequena Miss Sunshine" e "O Diabo veste Prada" mostram respectivamente de forma crua e muito bem humorada, o que estamos fazendo com nossas crianças, o perfil bizarro de uma família típica ocidental e como estamos nos sujeitando a uma vida miserável na maioria das empresas, mesmo que o trabalho seja recheado de glamour.

Pena que chegamos tão longe nesse jogo, será que ainda dá pra recuar umas 3 casas?

Somos iludidos pelo canto da sereia da civilização, mas na verdade estamos mergulhados na total barbárie.
Como trazer a cidadania para dentro dessas instituições? Você sabe? Por favor, me conte!?

3 comentários:

Viviane Sevarolli disse...

Em resposta a sua pergunta: “Como trazer a cidadania para dentro dessas instituições? Você sabe? Por favor, me conte!?” Eu não tenho uma clara ideia, mas seu texto é fantástico em apontar os grandes problemas em nossas instituições. Não diria que é uma questão tupiniquim, talvez seja algo mais globalizado, ou ocidental, especialmente quando empresas multinacionais ditam as regras. Uma vez escutei de um executivo que os problemas corporativos e disconexões ou mesmo a falta de cidadania que você maravilhosamente discute, não são problemas exclusivos das corporações e sim das PESSOAS. São elas que pensam e agem de maneira muitas vezes não dignas em favorecimento do lucro, poder, e outras luxúrias. Então imagino que enquanto pensarmos no individual, vamos continuar conquistando o degradamento que vemos hojes em escolas, e empresas. No entanto, vejo também que alguns grupos prosperam quando líderes possuem uma visão colaborativa e de grupo. Por isso, acredito muito que são as pessoas que decidem construir situações problemáticas ou não, e são elas que devem se tornar cidadões com C maiúsculo. As empresas são somente um conglomerado de pessoas, talvez seja mais “simpático” colocar “a culpa” nas organizações ... Mas não estaremos assim realmente resolvendo a questão ... Well, somente idéias ....

Anônimo disse...

Adorei o texto, Maristela, tanto na forma, qto no conteúdo. Parabéns. É uma boa discussão, acima de tudo. E merece mesmo nossa atenção.
Concordo tbm c/ o comentário da Viviane: felizmente ou infelizmente a falta de cidadania nas empresas e nas escolas não é um problema apenas brasileiro.
Aliás, a escola forma cidadãos q vão reproduzir essa 'loucura' a q vc se refere no ambiente de trabalho. A solução estaria então na própria educação, tanto na escola qto na família [q é algo q tem faltado...].
Mas, se cada um já tive rum pouquinho de consciência do q rola, a coisa vai melhorando e fazemos ao menos nossa parte não contribuindo c/ o sanatório geral.
E isso teu texto fez. Já é um começo.

Unknown disse...

Hoje uma conhecida relatou-me que havia sido assaltada e estuprada e espancada após sair do trabalho, por volta das 5:00.Fiquei horrorizada e ainda estou, agora após um momento refletindo vi que antes de pensarmos na tão sonhada cidadania que so temos no papel, vejo que se torna essencial pensarmos em HUMANIZAÇÃO, pois só assim a cidadania será buscada....

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